segunda-feira, 18 de abril de 2011
Índio e universidade é foco de coletiva
“Eu tenho 100 anos, porque tive outra criação”, afirmou o índio Alcindo Moreira, da tribo Guarani, do estado de Santa Catarina. O senhor que há um século acompanha os costumes e a história do seu povo mostrou por meio de um simples depoimento, a diferença entre os costumes indígenas e os hábitos do “homem branco”. Ele tem 42 netos, 28 bisnetos e já capacitou 28 professores indígenas em Santa Catarina. Com simpatia e muita sabedoria, o índio centenário atraiu a atenção dos jornalistas presentes na coletiva de imprensa realizada nesta terça-feira pela PUC Goiás, em função da Semana dos Povos Indígenas que continua até o dia 15 de abril.
Na ocasião, o pesquisador José Ribamar Bessa, que é coordenador do Programa de Estudos dos Povos Indígenas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, abordou sobre a importância da integração do índio no espaço acadêmico. “Há uma necessidade de se preservar os conhecimentos tradicionais. Existem ciências e saberes que são a garantia desse processo. Há uns 20 ou 30 anos, a sociedade brasileira se interessa pelo saber oral”, pontuou Bessa. Ele informou que o Censo do IBGE (2000) apontava 734 mil índios no Brasil.
Neste ano calcula-se que a população indígena seja superior a 1 milhão com 188 línguas diferentes. Bessa também ministra cursos de formação de professores indígenas em diferentes regiões do Brasil, assessorando a produção de material didático. Também estavam presentes representantes indígenas das tribos Karajá (Santa Catarina) e Xerente (Tocantins). “A universidade deve abrir suas portas para os saberes tradicionais sem se considerar superior”, disse o professor.
Entre os presentes estavam também muitas indígenas oriundas do Tocantins. Entre elas a xerente Iraci, 45 anos, com nome original de Krukané. A personagem pode ilustrar o exemplo do professor a partir da própria experiência: mãe de 10 filhos, ela concluiu o Ensino Médio e pretende ingressar no curso de Pedagogia em breve. Um dos filhos da índia estuda História em Porto Nacional e pesquisa as questões indígenas. Mesmo após o contato com a cultura do homem branco, a índia repassa os saberes e tradições aprendidos com seus antepassados.
Para a representante do Conselho Indigenista Missionário, Eliane Franco, o maior desafio é que os indígenas sejam incorporados nas universidades e que nesses espaços possam colaborar com seus conhecimentos. O Conselho colabora com a Semana dos Povos Indígenas da PUC Goiás propondo reflexões e trazendo indígenas para que possam enriquecer o evento. Vinculado à Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) o órgão promove a cada ano, uma reflexão que entra de acordo com a temática da Campanha da Fraternidade. Neste ano a proposta do conselho é discutir o tema “Vida para todos e para sempre” e lema “A mãe Terra clama pelo bem viver”. A Semana dos Povos Indígenas da PUC Goiás continua até o dia 15 de abril com oficinas e rodas de conversas de forma a promover a troca de experiências entre indígenas e não indígenas. O evento é uma realização da PUC Goiás, por meio do Instituto Goiano de Pré-história e Antropologia, Instituto do Tropico Subúmido e Secretaria da Educação.
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